poesia

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25 de março de 2014

"O pestanejo"











Aquando nos olhamos, não pestanejo,
pese pôr meus olhos a lacrimejarem.
Recuso não olhar, p'rós olhos que vejo,
quando no momento de pestanejarem.

21 de março de 2014

Ode à Primavera!











A Mãe Terra engravidou,
numa divinal orgia,
um Deus Flor a fecundou,
com amor e fantasia,

e pariu a Primavera,
fruto divino e de amores
e, por graça da Quimera,
os seus filhos foram flores.

A Terra porque bondosa,
os seus filhos, logo amou
e, porque uma mãe vaidosa,
com eles se atapetou,

e, porque mãe diligente,
mui zelosa a procriar,
ao tapete deu semente,
p'ró Verão poder vingar.

18 de março de 2014

Vontade derradeira!








Autores:
Victor Serra e Zé Loureiro

De Victor Serra:

Quando desta vida me for,
não chorem nem me dêem flores.
Numa campa rasa e sem cor,
eu descansarei minhas dores.

Ir de burro e gaitas tocai!
Foguetes e muitas risotas.
E vós os da estúrdia cantai,
com as desdentadas velhotas.

Hão-de ser modinhas brejeiras,
também as de amor pode ser,
e esqueçam as boas maneiras,
p'ra um senhor quando morrer.

Tu coveiro, baila também,
faz da enxada tua parceira.
Que não fique quieto ninguém,
haja festa p'la noite inteira.

Que venham lindas raparigas,
quando o dia já alvoreceu,
trazendo na boca cantigas,
em honra do que já morreu.

E tu padre, se quiseres vir,
sê ligeiro nas tuas orações...
No final também podes vir,
e juntares-te aos foliões.

Quando todos já mui cansados,
desta grande e linda festança,
e em casa já instalados,
não esqueçam, encham a pança.

Por fim, em letras de mil cores,
escreve moça linda e leda:
- Aqui jaz o de mil amores,
por ele ninguém tenha pena.

Como disse um grande poeta,
numa grande sabedoria,
"a um morto nada se nega",
e eu, só peço que haja alegria.

De Zé Loureiro:

Impedi a carpideira,
de por ti, chorar, carpir,
e lhe impus outra maneira:
chinfrinar, bailar e rir!

Actuei firme e preciso,
fi-lo por ti, p'lo que és,
activei o seu sorriso,
fiz-lhe cócegas nos pés.

Mas um sorriso é bem pouco,
porque trejeito p'ra mouco.
P'ra defunto, gargalhada,
e a bandeira despregada.

O que fazer? Como agir?
Eureka, lá encontrei!
Para por a velha a rir,
o seu rabo lhe apalpei.

E santo acto praticado,
pois por ti ela bailou,
e se ficou num tal estado,
que bem alto gargalhou.

Outra medida tomei,
de por ti nutrir afecto,
de luto não me trajei,
não alterei meu aspecto.

E me fiz de batuqueiro,
em teu caixão batuquei,
partiste p'ró céu prazenteiro,
p'lo batuque que te dei.

Ó diacho, ora entendi,
o quem sou, qual o meu estado,
e daí me apercebi,
que também eu estou finado.

E feliz por ser finado,
e poder participar,
contigo, bem a meu lado,
no além a poetar.

14 de março de 2014

Os Defuntos!













Autores: Victor Serra e Zé Loureiro

De Victor serra:

Os defuntos a tremer,
com desejos de aquecer,
buscam serviços activos:
Vão à caça, tocam, dançam
e, quando lassos, descansam,
rezam por alma dos vivos.

De Zé Loureiro:

E o vivo quer viver,
não lhe apraz ter de morrer,
busca modos atractivos:
Vai p'rá borga, come e bebe
e, enquando o morto fede,
ele adora ser dos vivos.

12 de março de 2014

Uma soma de olhares!













Não fora amor do que se diz "ao primeiro olhar",
nascera p'la soma dos olhares que trocaram.
Porque cúmplices, viram o amor germinar,
e se fundiram, para todo o sempre se amaram.