Na serra da minha Aldeia,
brotam lindos fios d'água,
ir p'ró mar, sua odisseia,
demanda de sonho e árdua.
Brotam: o Souto, o Cabeiro,
o do Meio e o Tornadouro,
afluentes do ribeiro,
o Cebola, um leito d'ouro.
Porque ao Cebola rogaram,
passagem para seu fim,
por seu leito demandaram,
rumo ao caudal do Porsim.
Em Porsim já instalados,
vão por curvas sinuosas,
e em modos extasiados,
beijam as ribas formosas.
Mas, seu estado retraiu,
quando para forte espanto,
um grande caudal surgiu,
sorvendo o sublime encanto.
Era o Zêzere o caudal,
que bem lesto se aprontou,
e num gesto paternal,
em sua água os montou.
Longo percurso vencido,
e fatigante viagem,
foi p'lo grupo decidido,
repousar numa barragem:
A do Castelo de Bode,
manto d'água aquietada,
em que no seu seio eclode,
um encanto de pousada.
E pós poiso repousante,
em caudal, fluxo cerrado,
levaram demanda avante,
rumo ao sonho desejado.
Pelo Zêzere alertados,
sobre um gigante caudal,
os ribeiros agrupados,
se induziram de moral.
Agrupados e sem pejo,
alma aberta, sem pavor,
afluiram para o Tejo,
o Caudal Adamastor.
O Tejo, monstro amoroso,
na junção, logo os amou.
e num gesto generoso,
para o mar os transportou.
E eu, o José Loureiro,
da minha casa em Almada,
olho o Tejo, prazenteiro,
pois em si, há terra Amada
Já bem no mar envolvidos,
desfrutando nova vida,
os Fios são esquecidos,
e demanda concluída.
Singular contradição,
pois na minha bela Aldeia,
iguais fios brotarão,
retomando a odisseia.
É a vida em movimento,
os ciclos d'água em função,
dar aos fios alimento,
numa eterna mutação.