poesia

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28 de fevereiro de 2012

"Quadras Soltas"








É primário no saber,
que o cozido não descoze,
e impossível inverter,
processo em metamorfose.

Esta eu não vos alvitro,
porque impossível, o creio,
pôr quantidade de litro,
numa garrafa de meio.

Sejas gente, mente franca,
limpa teus olhos primeiro,
nos teus não vês uma tranca,
nos dos outros, vês argueiro.

Uma vida, porque vida,
onde não campeia amor,
é como a carne curtida,
sem tempero, sem sabor.

"Amor de Alma"








Era um ente transparente,
e junto a mim se deitava,
não tinha forma de gente,
meigamente me abraçava.

Era a minha alma, carente,
que em meu sono me deixara,
quis conhecer outra gente,
para outros sonhos voara.

De seus beijos me inundou,
beijos de fluxo abundante,
mas ternamente me amou,
como se fora uma amante.

Regressou, tinha  saudade,
noutros sonhos vagueara,
Ente a sós, sem entidade,
porque de mim se apartara.

Findo o sonho e devaneio,
e por minha alma criado,
ofertei, pus em seu seio,
minha vida, o seu legado.

27 de fevereiro de 2012

Sabor da Beira










O sabor da linda Beira,
brota do seu condimento,
sua gente hospitaleira,
e modos de acolhimento.

Da beleza dos seus montes,
serpenteio dos seus rios,
água jorrando das fontes,
do ameno dos seus estios.

Da sua gastronomia,
de prazer manacial,
e nela a doce alquimia,
o seu vinho  divinal.

Do folclore secular,
com seu canto e sua dança,
e seus modos de dançar,
ao jeito de contradança.

Mas o povo, a sua flor,
entre modos é seu halo,
supra aroma do sabor,
do forasteiro o regalo.

24 de fevereiro de 2012

Manjar dantesco!







Fritam almas em azeite,
há muito do corpo soltas,
e também p'ra seu deleite,
defecam nas suas bocas.

Satanás, o mais safado,
arrotando e com azia,
um intestino grelhado,
com prazer o consumia.

Um ladino mafarrico,
com ar guloso, o pimpão,
lá papava de um penico,
um tenrinho coração.

Entretanto o Lucifer,
tido como cavalheiro,
surripava uma mulher,
e a papava prazenteiro.

Um diabrete invertido,
em tal orgia abancava,
e mariconço assumido,
uma alma macho papava.

A uma pura alma olheira,
que Deus p'ra lá destacou,
sofreu forte caganeira,
não contida, se borrou.

Borrou-se e dali fugiu,
cu com medo, apavorada,
pois aquilo que ali viu,
de justiça, tinha nada!

Para o céu prestes voou,
como alminha revoltada,
e ao inferno não voltou,
por temer lá ser papada.

E em banho de água benta,
com poção de celsas flores,
libertou-se da tormenta,
da borrada e seus odores.

20 de fevereiro de 2012

" O FADO E O RUÍDO"














A solo:

Um Ruído impertinente,
à porta dum Fado cantou,
convencido de haver gente,
a quem seu canto encantou.

Com surpresa do Ruído,
pelo Fado foi vaiado,
fora o Fadinho Corrido,
que o vaiou em tom irado.

Agastado e sussurrando,
deu de frosques humilhado,
e seu sussurro cerrando,
foi cantar para outro Fado.

Para outro Fado cantou,
cantou p'ró Fado Mandado,
mas este Fado o calou,
fechando a porta ao safado.

Passava o Fado Vadio,
vindo da borga o gingão,
meio torto e com fastio,
foi às fuças do mangão.

Por fim o chato Ruído,
combalido constatou,
ser apenas um sonido,
sem audição, definhou!

Em coro:

Ó Ruído! Vai-te embora,
vai-te embora, seu safado,
faz silêncio e colabora,
porque vai cantar-se o Fado.

14 de fevereiro de 2012

"O Papão"







Suas garras em meu corpo as sentia.
Belzebu, o horrível satanás,
de meu corpo o imundo se sacia,
e minha alma como um nectar o apraz.

Em torno de mim ele vai bailando,
muito feliz por em meu sonho entrar,
ávido, meu corpo e alma sugando,
cruel, impedindo meu acordar.

Em esforço de tal sonho me liberto,
e p'ra meu tormento, mesmo acordado,
as imagens do sonho não reverto,
por satã continuava tentado.

Súbito, um tal inferno se apaga.
Minha mãe, o freio dos meus terrores,
para meu prazer, minha face afaga,
libertando-me daqueles horrores.

11 de fevereiro de 2012

O fado e o mineiro!











Mineiro!

Ser mineiro é o teu fado,
teu destino e a tua sina,
como um qual moiro encantado,
preso aos encantos da mina.

Ser mineiro é expoente,
e a mais bela toupeira,
o emblema mais lucente,
de toda a terra mineira.

Ser mineiro é ser alguém,
que com a terra se funde,
se molda em seara também,
para que o seu pão abunde.

Porque de um mineiro filho,
também vivo esse teu fado,
fado e também cadilho,
que a ti me prende abraçado.

Meu amigo, irmão mineiro,
porque vivo esse teu fado,
me orgulho ser o primeiro,
por fado ter-te exaltado.

Autor da foto: Adelaide Vilela

9 de fevereiro de 2012

"Demandando o Paraíso"










Não vislumbro na procura,
no espaço sideral,
e a procura me tortura,
por ser vã e surreal.

Mas o que procuro eu,
no espaço sideral?
Eu procuro um certo Céu,
o Eden Celestial.

Será na Ursa Maior,
ou noutra constelação?
Porventura na Menor,
ou talvez em Escorpião?

Percorri o firmamento,
em todo norte hemisfério,
e por não vê-lo, lamento,
não desvendar o mistério.

Porque a sul, tal como a norte,
o Eden, não se situa,
procurarei melhor sorte,
em meu bairro, ou minha rua.

8 de fevereiro de 2012

Desertificação








O sino da minha terra,
não repica, já não tange,
porque isolado na serra,
só por brisas ele range.

Ao longe no horizonte,
e com inverso destino,
numa capela dum monte,
por si dobra outro sino.

Outro sino, por si dobra,
lamentando o seu ranger,
e o lamento se redobra,
por ver um amigo morrer.

Porque o ranger deste sino,
é lamento em agonia,
alterarmos seu destino,
é dar à terra harmonia.

Contranatural







Uma frágil andorinha,
no meu telhado poisou,
regressou, veio sozinha,
por saudade ela voltou.

E por a sós regresssar,
sem o amparo do bando,
não encontrou o seu lar,
ficou na procura errando.

E de esperança perdida,
pelo lar não encontrar,
fechou asas, exaurida,
acabando por finar.

A morte desta andorinha,
resultou, porque indefesa,
pois quebrou, por ser sozinha,
as regras da natureza.

6 de fevereiro de 2012

Fado: Os teus beijos meu amor!









Os teus beijos, meu amor,
são de minh'alma o sustento,
supra aroma do sabor,
e deles sempre sedento.

São teus beijos, meu amor,
sopros de vida, elixir,
morfinas p'ra minha dor,
a razão de eu existir.

Ai amor, esses teus beijos,
são em modos, sinfonia,
e na pauta dos desejos,
tratados de fantasia.

Meu amor, são os teus beijos,
de minha vida, poções,
são fantasia de almejos,
um desfralde d'emoções.

E quando desta me for
põe-me beijos na bagagem,
e assim possa, meu amor,
poder ter-te na viagem.

1 de fevereiro de 2012

Linda Princesa Raiana











Aldeia de João Pires,
é p'ra ti esta canção,
por tua saga seguires,
por fiel à tradição.

Doce encanto, bela Aldeia,
linda Princesa Raiana,
tens o charme de sereia,
em tua alma Lusitana.

És das Beiras, a vaidade,
do natural, a paixão,
do emigrante, a saudade,
saudade em sublimação.

Porque Afrodite das Beiras,
a Celsa Diva do Amor,
o teu ventre são roseiras,
em jardim, prenhe de flor.

É p'ra ti linda Raiana,
este canto como preito,
um canto de quem te ama,
e te alberga no seu peito.